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terça-feira, 16 de outubro de 2012

A maré das ações de dança e arte

A Cor da Maré, exposição dentro dos pavilhões do Centro de Artes da Maré, é alegre, de paleta variada, que oferece ao olhar de quem vê o trabalho de Chico Moreira. Ex-morador de lá, ele usa fotos dos anos 1970 para, com pirografia e acrílico sobre couro, redesenhar as paisagens daquela região do Rio. E não é um a região de cartão postal. Mesmo assim, lá tem sido um espaço que, aos poucos, ganha evidência.
 
No Centro de Artes da Maré tem, contados, 55 vasos de flores. Tem também uma incipiente biblioteca, um cine clube que funciona às segundas, uma escola de dança, além da sede da Lia Rodrigues Cia de Dança. Ontem, quando estivemos por lá para a exibição do vídeo Fora de Campo, antecedendo à série de entregas de dança que serão feitas pelo projeto Dança Contemporânea em Domicílio na sexta-feira, encontramos alunos da escola, profissionais que trabalham no lugar, alguns integrantes do Redes, que aciona cidadania e inclusão com diferentes projetos. Tudo dependente de projeto, de financiamento. Se paga aluguel pelos dois barracões. Ainda. Provavelmente por muito tempo.
 
Assim, levar o vídeo e fazer entregas naquela região é pra lá de significativo. Inauguram-se olhares, provam-se possibilidades, estabelecem-se deslocamentos. Afinal, uma das questões fundamentais do trabalho de Cláudia Müller é a busca de diálogo, o contato com o público fora do sistema estabelecido das artes, a complementação da obra por aquele que a vê, reorganização da obra enquanto é executada, o esgarçamento dos limites entre as formas de fazer arte, a revisão desses conceitos de arte.
 
Para além dos desafios de trabalho lá, que vão desde a poluição sonora, olfativa e visual, trabalhar na Maré, por outro lado, uma afirmação de vontades, uma crença no efeito que essa ação possa ter na vida dos 200 estudantes que passam por lá dia e noite. Assim, a Dança Contemporânea em Domicílio entra na maré do fortalecimento do gesto criativo, na contundência de ações específicas, pontuais, que reverberam, que se processam antes de acontecer e depois que aquilo foi mostrado, que a visita se deu.
 
Depois da primeira visita à Maré, na subida pra casam entro no Cine Santa para ver Tropicália, de Marcelo Machado, e me deparo com aquela inquietação toda do movimento, com as cores e a ousadia tropicalista com sua ação fractal, que começou pela música e chegou ao cinema e às artes. Ou vice-versa-vice. Então, pensando em Lygia Clark, que aparece muito rapidamente no filme, e no Oiticica, que discursa sobre o que é e o que não é arte, exulto no escurinho da sala: as coisas fazem sentido! Lá longe, Avenida Brasil adentro, e aqui mesmo. Estamos na maré de reafirmações: da importância de transgredir, da pertinência de transformar, da imperiosa necessidade de nos (re)organizarmos para fazer nossas danças terem sentido. E que o sentido delas nos surpreenda pela potencialidade de suas ações.

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