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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Uma dança para Hermeto Pascoal

A imagem do bruxo Hermeto Pascoal nos recebe em Bangu, na entrada da Lona Cultural que empresta seu nome. Para chegar lá, quase duas horas para pouco mais de 30 quilômetros. Avenida Brasil, hora do rush, calor, oi, oi, oi! Então chegamos ao espaço, equipamento cultural inserido na paisagem, mas..., como descubro pela declaração de uma das pessoas que trabalham por lá, de frequência bem pontual: público de música, em especial pagode ou funk. Teatro? Mais infantil, quando as escolas programan a visita de seus alunos. Faz calor, muito. Na quadra de futebol ao lado, uma moçada pratica o futebol e briga pelo desfecho de um lance.
Então, armamos o espaço para a exibição do vídeo Fora de Campo, depois as conversas que serão o chamariz das entregas de dança segunda-feira. Para tanto, levamos projetor, tela, e outros equipamentos necessários. Mas o bacana é fazer esta ação justamente numa paisagem e num contexto assim, desafiador. É tática de guerrilha cultural, mesmo! É fazer exatamente o que uma das facetas de Dança Contemporânea Em Domicílio sugere: encontrar o público, mobilizar seu olhar para a dança, para um tipo específico de ação artística.
Na conversa depois da exibição, com participação de Cláudia Müller e Valeria Valenzuela, ambas criadoras do vídeo, o reforço sobre essa contingência do artista contemporâneo hoje: ir ao encontro do público, abrir espaços, ocupar e movimentar o que se tem em termos de estrutura e equipamentos culturais, apostar na circulação e fazer a engenharia dessa estrutura funcionar.
O que fica? Ou que vai embora, depois das apresentações? Qual o rastro que se deixa? Como lidar (artista e público) com esta “dança que não se vê”? Questões que são respondidas à medida que se executa a obra. Quem paga, como retribuir a isso?, indaga alguém da plateia. Aí, novamente voltamos às questões em torno da ação pública para uma política cultural eficiente, mobilizadora, plena de resultados.  Quantos mais o bruxo Hermeto quer receber em sua lona? Certamente tantos quantos a pluralidade e inventividade que sua música sugere como exemplo da diversidade e alcance da arte.
“Quando eu vou embora , pouco sei do que o público está pensando”, pondera Cláudia no finzinho da conversa. Esta dúvida certamente mobiliza sua próxima entrega, seu próximo projeto, sua proxima dança. Dessa inquienatção resulta uma obra.

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