A imagem do bruxo Hermeto Pascoal nos
recebe em Bangu, na entrada da Lona Cultural que empresta seu nome. Para chegar lá, quase
duas horas para pouco mais de 30 quilômetros. Avenida Brasil, hora do rush,
calor, oi, oi, oi! Então chegamos ao espaço, equipamento cultural inserido na paisagem, mas..., como descubro pela declaração de uma das pessoas
que trabalham por lá, de frequência bem pontual: público de música, em especial
pagode ou funk. Teatro? Mais infantil, quando as escolas programan a visita de
seus alunos. Faz calor, muito. Na quadra de futebol ao lado, uma moçada pratica
o futebol e briga pelo desfecho de um lance.
Então, armamos o espaço para
a exibição do vídeo Fora de Campo, depois as conversas que serão o chamariz das entregas de dança
segunda-feira. Para tanto, levamos projetor, tela, e outros equipamentos necessários. Mas o bacana é fazer esta ação justamente numa paisagem e num contexto assim, desafiador. É tática de guerrilha cultural, mesmo! É fazer exatamente o que
uma das facetas de Dança Contemporânea Em Domicílio sugere: encontrar o
público, mobilizar seu olhar para a dança, para um tipo específico de ação
artística.
Na conversa depois da exibição,
com participação de Cláudia Müller e Valeria Valenzuela, ambas criadoras do
vídeo, o reforço sobre essa contingência do artista contemporâneo hoje: ir ao
encontro do público, abrir espaços, ocupar e movimentar o que se tem em termos
de estrutura e equipamentos culturais, apostar na circulação e fazer a
engenharia dessa estrutura funcionar.
O que fica? Ou que vai embora,
depois das apresentações? Qual o rastro que se deixa? Como lidar (artista e
público) com esta “dança que não se vê”? Questões que são respondidas à medida que
se executa a obra. Quem paga, como retribuir a isso?, indaga alguém da plateia.
Aí, novamente voltamos às questões em torno da ação pública para uma política
cultural eficiente, mobilizadora, plena de resultados. Quantos mais o bruxo Hermeto quer receber em
sua lona? Certamente tantos quantos a pluralidade e inventividade que sua
música sugere como exemplo da diversidade e alcance da arte.
“Quando eu vou embora , pouco sei
do que o público está pensando”, pondera Cláudia no finzinho da conversa. Esta dúvida
certamente mobiliza sua próxima entrega, seu próximo projeto, sua proxima dança. Dessa inquienatção resulta uma obra.
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