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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pavuna que pulsa

Três escolas rodeiam a Arena Cultural Jovelina Pérola Negra na Pavuna. Uma praça também abraça o espaço, que é o centro dessa paisagem. Esse é um dos dados significativos para o ambiente, o contexto e as repercussões do que se deu quinta-feira à noite, quando foi exibido o vídeo Fora de Campo, antecedendo à maratona de entregas do projeto Dança Contemporânea Em Domicílio, que vai rolar na terça-feira por lá. No encontro, a pesquisadora Eleonora Fabião intermediou a conversa com Cláudia Müller, acompanhada por um público de estudantes e professores em sua maioria.
 
Na interlocução, um primeiro movimento/registro: sobre o processo de criação do artista, seus cadernos de anotações, cadernos de ideias, leituras, imagens, procedimentos recorrentes. Eleonora fez questão de pontuar essa instância: ideias não são produto de geração espontânea, “não são só iluminação”. Ideias artísticas são rede de informações conectadas, trabalho sistêmico. “Não sei dançar sem ler um livro”, exemplificou Cláudia.

Seguindo, a pesquisadora propôs um olhar sobre a inserção desse projeto (e da arte) no sistema econômico, refutando a ideia de que a gratuidade da arte em muitos casos seja uma dádiva, que não há (ou deva haver) pagamento para ela. Aí, refletiu-se sobre os sistemas de circulação de projetos/propostas, do cruzamento entre espaços de circulação público e privado que o Dança Contemporânea em Domicílio promove. “Uma conversa entre corpo público e corpo privado”, frisou Eleonora. Esses “dentro e foras” revisam sistemas de relações, borram suas contingências. Afinal, como Claudia diz perseguir em seu trabalho, o fundamental está em ver o público, encontrar com ele, apostar no diálogo possível.

Então, mais uma instância para reflexão, a dos ambientes formais e tradicionais e os outros espaços para se produzir arte, as questões em torno de características de um tipo de obra: sobre dança com ou sem música, sobre os tipos possíveis de dança. Nesse caso, Eleonora exemplifica: “um espaço, uma arquitetura, esses banquinhos azuis dançam a gente, geram uma dinâmica, uma coreografia, nos ritmizam”.

Buscando falas do vídeo, Eleonora ponderou sobre os benefícios da arte. “... faz as coisas circularem...”, diz uma das personagens do vídeo. “Essa circulação é saúde”, frisa Eleonora. “Essa aproximação entre estética e saúde é fundamental, acredita a pesquisadora. Gerar um corpo é estar em transformação. A arte permite que o humano encontre o humano.”
Outro fragmento do vídeo: “... a arte vai a lugares que ninguém vê...”. Mas, no palco, se vê. Mas, de novo, existem muitas outras frestas possíveis para esta visibilidade. “Em Cláudia, o cotidiano salta aos olhos”, destaca Eleonora. Por isso, segue ela em seu raciocínio, um trabalho como Dança Contemporânea em Domicílio, tem a capacidade de “quebrar a moldura” entre a convenção (do palco, da tela, do museu) e o inovação (da rua, da barca de Niterói, do banco, da UTI de um hospital - lugares que já tiveram entregas de dança). “A humanidade é a riqueza”, diz Eleonora.

No eco dessas reflexões, alguém da plateia frisou: “Nesse trabalho, o que se move é o artista”.

Mas a noite, produtiva que só, teve mais reflexões pulsantes. Noutro eixo da conversa, falou-se sobre espaços de exibição, estruturas possíveis de circulação, festivais. Cláudia historiou com Dança Contemporânea em Domicílio construiu-se em festivais. Por isso, refletiu Eleonora, é preciso investir em estruturas vivíveis em invisíveis para circulação das novas práticas artísticas. Por isso, é fundamental acreditar nessa coreografia com o público. Pois, se o que se busca também é uma dança que tenha estrutura, é fundamental essa conversa com as pessoas.

Por isso a Pavuna pulsante que recebeu o projeto não pode mais se pensar como uma (ótima) estrutura e projeto cultura periférico. Sediado encontro como os de quinta-feira à noite, apostando na formação de público, e incrementando sua agenda, Pavuna é o centro de novas e potentes realidades.



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