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domingo, 21 de outubro de 2012

Olhar fotográfico para a dança

Inês Corrêa é pesquisadora e fotojornalista, mestranda em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Foi fotógrafa colaboradora da Folha de S Paulo e Folha da Tarde e produtora executiva do programa sobre desenvolvimento sustentável Espaço do Litoral, TV Cultura - Litoral. É repórter fotográfica da agência P.A.P.A – Participating Artists Press Agency, sediada em Amsterdã - Holanda, coordenada por Lino Hellings, socióloga. Começou a fotografar teatro e dança no Teatro Coletivo, antigo Teatro Fábrica e realiza trabalhos profissionais para Cia. Taanteatro; Keyzetta e Cia.; Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira Cia. de Dança, Cia. Borelli de Dança, Cia. Flutuante, Grupo Gestus, Cristian Duarte, Emilie Sugai, Júlia Rocha, Gícia Amorim, Eduardo Fukushima, Diogo Granato, Raul Rachou e Helena Bastos entre outros. Também é Membro do CED - Centro de Estudos em Dança (PUC/SP). Neste domingo, Inês chega se junta ao Projeto Dança Contemporânea em Domicílio para registros das entregas que estão sendo feitas por 15 bairros cariocas. Aqui, um papo com a profissional sobre as nuances de seu trabalho, que tem focado a dança com significativa propriedade.


- Qual a especificidade da fotografia de dança, o que ela exige do profissional?
A fotografia de dança, como a fotografia de qualquer coisa – gastronomia, turismo, natureza, política, guerra –, tem sim sua especificidade, Carlinhos. Vou começar a responder sua pergunta refletindo primeiro sobre como buscar esta especificidade. Penso que para encontrá-la o que é exigido de um profissional antes de qualquer coisa, é envolvimento, ou seja, o fotógrafo fotografa aquilo que afeta sua percepção. Mas como se envolver sem se apaixonar para um contato mais próximo, mais íntimo? Porque escolheria a dança para meu fazer fotográfico se gostasse mais de futebol ou de guerra? Esta escolha do fazer o que se gosta pode ajudar, e muito, no encontro das especificidades desta fotografia, desta escrita da luz do movimento. Para que aconteça um encontro mútuo: fotografia-dança, dança-fotografia. Um querer se encontrar. Escolher a dança para criar uma imagem é se deparar com o corpo em movimento contínuo no espaçotempo.


- Na tua proposta em especial, o que interessa na hora de fazer uma foto/ensaio?
Existem muitas pesquisas diferentes acontecendo na dança. Um universo que vem em direção da fotografia. Como sou jornalista, como você Carlinhos, imagino que o que me interessa é a diversidade dela, da dança. Sou curiosa, quero conhecer, muitas, se puder todas as propostas que acontecem em dança hoje. Na hora da foto o interesse pode mudar. Dependendo do que tenho para fotografar. Não consigo pensar num único olhar fotográfico para propostas tão distintas. Perceber as diferentes propostas e “traduzi-las” em imagem fotográfica depende de muitas escolhas que acontecem na hora da foto. Não há um manual de instrução, há um querer ver aquele objeto em memória, querer criar uma memória da dança utilizando-se da fotografia.


- Por que a dança te atrai profissionalmente?
Sempre digo, Carlinhos, que a dança mudou meu olhar, meu fazer fotográfico. Olhar a dança e torná-la imagem fotográfica é algo que me inquieta. Ao fotografar começo pela luz, afinal, fotografia quer dizer grafia da luz. Depois a dança me capta pelo movimento do corpo e, consequentemente o tempo fotográfico deste corpo. Olhar a dança hoje, estas danças que acontecem atualmente, para mim, é ter contato com o tempo de agora para guardar a memória deste tempo, deste corpo que se expõe em dança, em movimento. É fazer deste fato um acontecimento.


- O que te mobiliza em especial nesse projeto Dança Contemporânea em Domicílio?
Fotografo dança somente desde 2007 e, quando a Cláudia Müller entrou em contato comigo e propôs que eu fotografasse o Dança Contemporânea em Domicílio foi uma honra porque o trabalho que ela sugere é inusitado. Por outro lado, ficou muito claro para mim o que falei logo acima, sobre o gostar do que se faz e quanto isso nos leva ao encontro, neste caso dança-fotografia, proporcionado pela Cláudia ao me escolher para fotografar seu projeto e fotografia-dança, que será a forma como vou expressar em imagem o Dança Contemporânea em Domicílio.


- Como você acompanha a cena da dança brasileira, o que pensa sobre ela?
Bom, Carlinhos, não vejo uma cena da dança brasileira. Vejo muitas cenas. E é isso que me faz querer mais e mais fotografar dança. Porém não sou a pessoa mais indicada para falar sobre dança. Existem profissionais especializados. Mas posso falar sobre a fotografia de dança que pode tornar visível esta cena ou aquela, fazer uma cena sair de um domicílio e entrar em outro em forma de imagem, deslocar o palco para o papel, para a internet.


- Você está com um projeto específico? Qual?
Estou preparando uma dissertação de mestrado na PUC-SP e meu objeto de estudo é a fotografia de dança e como ela pode contribuir para uma reflexão sobre o papel da fotografia jornalística com recorte no jornalismo cultural. Ou seja, neste projeto a ideia é propor uma reformulação dos critérios de publicação das fotografias jornalísticas no campo do jornalismo cultural.
Para acompanhar outros trabalhos de Inês Corrêa, seguem dois links bacanas, do site e do blog que ela mantém:


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