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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Parceria de ideias em Fora de Campo

Coprodutora de Fora do Campo, que tem sido exibido nesta fase do projeto Dança Contemporânea em Domicílio, Valeria Valenzuela fala sobre a produção que divide com Cláudia Müller:
 
Qual a capacidade que o vídeo tem em instaurar diálogos sobre dança?
 
Quando planejamos o Fora de Campo decidimos girar a câmera e direcioná-la ao espectador. Procurávamos captar os detalhes mais mínimos, tanto corporais como verbais, que pudessem expressar a experiência dessas pessoas com a performance. Reconstruir a coreografia nos olhares de seus observadores já é uma forma de dialogar com a dança desde outro lugar, um lugar que normalmente fica no anonimato. Um espectador do vídeo diz: “A arte passa por lugares que quase ninguém vê”, então resolvemos ir atrás das suas pegadas, das suas marcas, para falar sobre ela desde esse “outro lugar”.
 
No que ele inova e, por isso, tem tanta aceitação?
Acredito que para todo artista é fundamental a recepção da sua obra. Vi muitos coreógrafos e bailarinos emocionados quando assistiam Fora de Campo. Era como se estivessem assistindo ao fruto do seu próprio trabalho. O vídeo fala de uma forma muito simples e ao mesmo tempo profunda do que a experiência estética da dança é capaz de transmitir. Por outro lado, acho que para os espectadores do vídeo também resulta interessante ser espectador de espectadores, é uma forma de se observar a se mesmo.
 
Como você vê/analisa o trabalho hoje, cinco anos depois de tê-lo concebido com Cláudia Müller?
Quando finalizamos o trabalho, eu não tinha muito claro qual seria o caminho do vídeo. Participamos de alguns festivais, tendo sempre mais sucesso em espaços relacionados com dança. A surpresa foi que o vídeo despertou um novo interesse por Dança Contemporânea em Domicílio. Cláudia conta que muitos festivais se interessam pela performance depois de assistir Fora de Campo e chegam a contratar apresentações sem ter visto o que na apresentação acontece. Existe um grande interesse pelo que a performance mobiliza, que foi o que acabou sendo registrado no vídeo. Por isso, depois de cinco anos, acho que são dois trabalhos que se complementam, que se enriquecem mutuamente, e que funcionam muito bem quando se apresentam em contextos próximos.
 
Qual a importância dele estar sendo apresentado nos bairros do Rio?
Uma das preocupações quando filmamos o Fora de Campo era mostrar a cidade e as pessoas que nela moram. Fizemos uma seleção muito minuciosa sobre quais seriam os percursos entre uma entrega e outra. No vídeo vemos o Pão de Açúcar, os Arcos da Lapa, o bonde de Santa Tereza, a Central do Brasil, todos lugares muito característicos do Rio. Também quisemos retratar os moradores da cidade fazendo entregas num ateliê de samba, numa praça na Gamboa ou nas barcas que vão para Niterói. O filme mostra muito do Rio, do seu cotidiano. A performance trabalha com a ideia de ocupação da cidade e isso também está no filme. Então, nada melhor do que as apresentações do filme agora ocuparem também os bairros do Rio de Janeiro!
 
O que você esperava e o que obteve com esse trabalho?
O trabalho foi sem dúvida um desafio. É muito mais fácil colocar uma câmera frente a uma bailarina que se movimenta do que frente a quem observa passivamente. Criar uma estrutura fílmica que conseguisse manter a atenção e o interesse era o que mais me interessava conseguir. Durante esse processo a experiência de colaboração com Cláudia foi fundamental. A dança se pensa de uma forma diferente do que como se pensa o audiovisual, e por isso, a troca entre profissionais das duas áreas na hora de criar uma videodança se torna uma experiência muito enriquecedora.

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