Desafios, encontros, olhares e
estranhamentos numa quarta-feira intensa, perambulando pelo Centro do Rio. Numa
agência de crédito, primeiro foi necessário explicar tudo direitinho para o gerente,
que se preocupava com “o que aconteceria depois” ou “a finalidade disso”. Topada
a ideia, ele e outras cinco funcionárias aplaudiram a apresentação.
Uma imbricada subida de escadas
nos levou ao “alto lapa, baixo Santa”, como denominam o lugar alguns artistas e
arte-educadores que vivem numa espécie de vizinhança de gostos, vontades e
atuação. Ali, olhares atentos, alguns das janelas, numa significativa metáfora
sobre frestas possíveis para a atuação do artista. Tanto aquele que, em
determinada ocasião, vira público, quanto o que está ali, dançando no quintal,
debaixo de uma aroeira.
“Fica o meu agradecimento ao
artista que bem na minha casa lembrar que meu desejo é fazer arte. Não uma arte
mercenária, que só pense em vender valores com os quais eu não compactuo. A
ideia mostra que às vezes as pessoas podem fazer um gesto de gratidão através
da arte”, disse Vanessa Lobo, 34, que é contadora de histórias e terapeuta.
Fabiano Manhães, 31,
arte-educador, incluiu-se num das tantas questões abordadas pelo Dança em Domicílio.
“O mais bonito de tudo é ser surpreendido
por algo inesperado, que é a arte, e pela questão que é a dicotomia da
sobrevivência fazendo arte, essa questão do dinheiro versus a arte.”
Seguimos para a sede de um grupo
de teatro na Lapa e, incrivelmente, fomos recebidos com estranhamento e certa
distância. De novo, a questão dos repertórios e da disponibilidade emergiu.
Vencida essa resistência, os seis integrantes que assistiram ao trabalho se identificaram
com a proposta: “É o nosso dilema. A gente faz de tudo, até faxina para viver
de arte”.
No salão de beleza, uma entrega
que provocou emoção na cabelereira e psicanalista Jane Camacho. No vaivém dos
afazeres, ela parecia estar distante do que acontecia ali, entre mesas de lavar
cabelos, secadores e mesinhas de manicure. Mas, ao fim, abraços e lágrimas. O
mesma carga de emoção envolveu uma secretária de um escritório de advocacia, no
Centro.
“Queria tanto essa leveza, ganhei o dia!”
“Para o bem ou para o mal,
estamos mergulhados na mesma questão”, identificou-se a produtora Camila
Martins, na Lapa.
O dia teve ainda duas entregas em
repartições públicas municipais do Centro, finalizando com uma apresentação para
Diana De Rose, gerente de dança da Secretaria Municipal de Cultura, que assistiu
ao trabalho ao lado de colegas de sala.
“Esse formato é tão rico em
termos de difusão. É essencial levar a dança a lugares fora do comum, dos
espaços onde ela é esperada. Espero que Cláudia Müller tenha ideias assim”,
comentou Diana.
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